segunda-feira, 14 de junho de 2010

Plantando bandeirinhas em “cocôs de cachorro” no Flamengo – reprodução do “Mission Drapeau-Crotte”

Meu trabalho começou com um problema, não me sentia à vontade em reproduzir uma performance, simplesmente porque nenhum trabalho com o qual tive contato me instigou a motivação que tanto esperava. Quando assisti ao vídeo de iniciativa de um grupo, que para chamar a atenção para o problema de excesso de “cocô de cachorro” nas ruas de Paris, plantam bandeirinhas em cada um que encontram pelas ruas. O vídeo não se propõe a uma ação artística, mas a discussão acerca desse caráter se mostrou interessante e então, a partir desta iniciativa e articulando com outras discussões em sala, sobre a utilização que fazemos do espaço público -não apenas como artistas, mas também seres sociais- percebi que a ação deste grupo me estimulava à Ação.
A experiência:
Confeccionei bandeirinhas vermelhas escritas com as seguintes frases:
“Atenção! Utilização do espaço público”
“Essa é a sua casa.”
“Fique à vontade”
“Goooool”
Saí pelas ruas do Flamengo e logo encontrei os nossos dignos “cocôs de cachorro”, e na primeira bandeirinha já recebi resposta dos passantes. Essa ação chamou a atenção das pessoas, que formularam as mais diversas explicações para o que eu estava fazendo.
Algumas situações:
A primeira manifestação consistiu na frase: “Tinha que matar todos os cachorros!” que teve como resposta: e se matássemos os donos dos cachorros, que não tiram a sujeira de seus “animaisinhos”?

E então ele disse que eu estava fazendo era um ótimo trabalho e ao perguntá-lo o que achava que era, ele respondeu: “Ué! Não é pra um jornal?”
Uma senhora com um cachorro perguntou se eu tinha levado para a rua “aquilo” no qual eu plantava as bandeirinhas, já que eu não usava uma luva para colocá-las.
Uma terceira situação foi muito interessante, dois passantes, pararam, mas não quiseram ser fotografadas e então começamos a conversar e um deles disse que quem tem cachorro deveria pagar um imposto por isso, e que esse imposto seria revertido para a manutenção da fiscalização. E terminou dizendo: “isso que você tá fazendo, é arte” – Essa manifestação me interessou, não por que alguém estabeleceu aquela reprodução de uma ação, como arte, mas sim porque houve um reconhecimento do gesto, e também apenas isso, pois ficou surpreendido quando eu disse se tratar de um trabalho para a faculdade de teatro, o que me remeteu imediatamente à nossa discussão em sala a respeito da validade do vídeo original enquanto arte e à reflexão acerca da questão sobre quem estabelece o valor de arte a uma obra ou ação.
O caráter desse trabalho para mim consiste na relação que acaba por se estabelecer com quem passa, mas é importante ressaltar como as pessoas sempre pensam que este tipo de ação está ligada a uma instituição que combate alguma coisa errada, é difícil vislumbrar como uma ação isolada, de uma pessoa que possa ter uma motivação outra. Durante o contato com os passantes foi possível perceber os inúmeros desdobramentos que esta ação pode ainda revelar. Ao lembrar os relatos em sala de aula sobre como os passantes se manifestam, Cut Peace da Júlia, Meditação dos Heróis do Cotidiano, “O Gelo” da Laura, dentre outros, podemos perceber que essas ações, podem se revelar como intervenções políticas no espaço público.
Aqui revelo o que significou essa experiência, que terminou por expressar as questões que pareciam me impedir de reproduzir alguma ação performática e sendo assim, decidi dar continuidade ao trabalho e convido a quem quiser participar!


REENACTMENT DE: Verônica Fernandes

Um comentário:

  1. Excelente trabalho. Interessante como a iniciativa timida no inicio conduziu a uma conscientizacao progressiva sobre questoes politicas ligadas à utilizaçao do espaço urbano. o que poderia aparecer como uma açao apenas irônica contém desdobramentos imprevistos tanto práticos como conceituais. se tiver bandeirinhas sobrando, podemos dividir na aula e expandir sua açao. faz parte daquilo que o Guattari chama de tao necessária "reciclagem eco-mental".

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