terça-feira, 15 de junho de 2010

Com que roupa eu vou?

Flávio de Carvalho. Anos 50. Experiência n°3. Ao criar o New Look Flávio problematiza uma estética da moda imposta por padrões criados muitas vezes em desacordo com o lugar, a cidade e/ou país onde se abosorve tais influências. O look criado era composta de blusão, saiote, sandálias e perna nua. Ao me deparar com a necessidade de reproduzir uma performance na matéria ATAT e lendo várias possibilidades me identifiquei de imediato com o questionamento lançado por Flávio. Eu particularmente gosto de usar saia, passei momentos de minha vida particular em que usava e percebia sempre um grande movimento a minha volta, era sempre muito abordado na rua por vários tipos de pessoas, desde curiosos até os mais incisivos e preconceituosos. Essa lembraça e sentimento que me moveram a pensar o trablaho de Flávio de Cravalho totalmente "atual" e a partir disso tentei desenvolver a recontituição da performance.
A proposta do Flávio estava embasada nas questões do clima e no quanto o uso de saias e pernas nuas traria uma sensação de frescor para os homens. A não obrigatoriedade de usar roupas fechadas. Eu fiz um paralelo particular com a sensação que sentia ao usar saia e percebi que sair de saia é por si só uma "performance".
Ao conhecer a experiência n°2 do Flávio em que ele anda numa procissão com um chapéu e na contra mão do fluxo estabelecido, ele tensiona o poder das massas e principalmente a atitude das multidões. Nesse experimento ele teve que sair escoltado pela polícia ao fugir dos fiéis que se revoltaram com sua atitude e tentaram linchá-lo.

Tentando uma paralelo entre a visão massificada e o poder das massas junto com a sensação que sentia ao usar saias, decidi fazer o seguinte experimento: usei uma saia e uma sandália na parte inferior do traje e coloquei uma camisa e uma gravata na parte superior. (Registros serão lançados no final). Fui a praia de copacabana com um guarda sol e no calçadão tomei 1 sorvete e um picolé.
Pensando a performance como uma "mistura" entre as artes, como uma possibilidade autônoma diante dos registros cotidianos da cidade busquei estabelecer uma ligação entre a possibilidade de autonomia entre as roupas masculinas e femininas na sociedade bem como resgatar o questionamento principal de Flávio de Carvalho com relação ao clima de nosso país e a obrigatoriedade de uso de roupas fechadas e incompatíveis com nosso clima.
Uma coisa particular que me aconteceu durante a performance é que por estarmos em uma época de clima mais frio no Rio de Janeiro eu ao tomar 1 sorvete e um picolé no calçadão e usando saia passei muito frio. Algumas pessaoas me abordaram perguntando o que se tratava, outras fazendo brincadeiras e outras talvez ridicularizando, mas de fato o que mais transformou minha experiência foi o frio que passei. Nesse sentido o pensamento levantado por Flávio em 1956 parace ainda hoje completamente pertinente. Como um traje inadequado pra uma temperatura traz questões muito concretas a serem pensadas pela sociedade.
Devido ao frio fiz uma ação de 40 minutos apenas e vou refazer em um horário de mais sol, pois dessa vez trabalhei no fim de tarde.

Pensar o ato performático como um tensionamento do cotidiano, como uma busca de relativização do tempo-espaço proposto pelos padrões sociais e como uma possibilidade política dentro do sistema que estamos envolvidos acredito que a escolha da experiência n° 3 de Flávio de cravalho me contemplou com o sentimento e a certeza de atemporalidade dessa sua obra. A experiência propriamente dita me deixou inteiramente vulnerável ao frio, fato que é questionado por ele com relação ao calor, dessa forma estou bem inclinado a fazer uma série de reproduções em vários locais da cidade do Rio de Janeiro e talvez até em outros estados.
Assim que tiver novos registros disponibilizarei nesse blog.

abraços em todos
Jarbas Albuquerque

Um comentário:

  1. reflexao e performance interessante, no que diz respeito à atualizaçao do questionamento de Flávio de Carvalho. falta inserir o registro (foto ou video) dessa primeira experiência e a foto do original, para o contraponto. e me enviar por email a proposta de nota.

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